quinta-feira, 21 de abril de 2011

Por que investir em gado

Muitas pessoas sequer têm noção do que é investir em criação de bovinos. É evidente que no mundo dos negócios, há pessoas que se interessam em aplicações financeiras, bolsa de valores ou outros tipos de investimentos. Mas a criação de gado é um ótimo negócio no Brasil, onde muita gente tem como seu principal foco essa atividade, seja para produção de carne, leiteiro, ou simplesmente em genética.

Se o negócio é bom, por que todos não investimos nele? Porque não é fácil. É um segmento em que know how, conhecimento e engenhosidade são muito requeridos.

De início, é preciso saber que para investir em gado é necessário saber trabalhar com o mercado, ter algum conhecimento mínimo de alguns procedimentos básicos, pois se o mercado entrar em crise, a pessoa deve saber como agir. Mas apesar disso, na maioria das vezes a situação se estabiliza, já que este é um mercado maduro.

A criação de gado é uma coisa bem ampla, e antes de entrar é necessário focar e definir bem o objetivo do que se quer empreender. Os maiores empreendimentos na pecuária são no mercado de gado, onde muitas criações estão espalhadas em várias cidades interioranas do Brasil, principalmente no interior do centro-oeste e Minas Gerais, que é uma das regiões mais produtoras de gados de corte do país.

Até a próxima
Um abraço
João

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O que é uma vaca leiteira - Parte 2

Mas o que é uma vaca de alta produção? Não existe padrão ou regra, mas a prática levou a convenção de que uma vaca em confinamento total (excelente manejo), produza em 305 dias algo em torno de 10 mil kg, é uma vaca de alta produção. Da mesma forma aquelas que produzam algo como 6 mil kg de leite em regime de adequada suplementação, tanto aquela que no mesmo tempo (305 dias), de 4 mil kg leite a pasto, são consideradas excelentes animais.

Qualquer que seja a cor, raça ou grau de sangue, alguns aspectos são geralmente comuns a todas boas leiteiras:

- São em geral maiores que as demais do rebanho, com boca mais larga, mais apetite, e com barril amplo (espaço que vai do vazio a primeira constela), capaz de acumular elevados volumes de MS (matéria seca).

- O aparelho leiteiro deve ter boa conformação, bons ligamentos (cordões que sustentam o úbere, dividindo-o em 4 partes), úbere bem aderido em suas bordas e com assoalho no máximo 10 cm, na terceira cria superior a linha dos jarretes. Tetos espaçados e equilibrados com tamanho de 4 a 6 cm de comprimento. Na parte da frente deve o úbere começar o mais próximo do umbigo possível, e por trás deve começar alto, próximo da vulva (10 cm abaixo da base da vulva). O ligamento central, aquele cordão que divide o úbere em dois no sentido longitudinal, deve ser vigoroso, bem visível, é ele que garantirá longevidade ao aparelho mamário. Importante elemento no composto leiteiro, é aquela veia que se vê na barriga da vaca, ligada ao úbere, que deve ser forte, bem pronunciada, isto vai garantir boa irrigação ao úbere, igualmente aquelas veias que circundam todo o úbere, isto garantira grande bombeamento de sangue ao úbere. Não é bom esquecer que para produzir um litro de leite, mais de 400kg de sangue precisam circular pelo aparelho leiteiro da vaca.

- Pernas e patas, aparelhos fundamentais para uma boa leiteira. Vão propiciar ao animal, caminhar, ir atrás do alimento, locomover com disposição. Animais de alta produção, dependem dos aparelhos locomotores para mover o peso de seu corpo que giram em torno dos 500/600kg. Olhando por trás a pernas traseiras devem ser paralelas , iniciando nos ísquios e terminando nas patas. Olhando as pernas dianteiras, pela frente, devem ter o mesmo paralelismo, com espaçamento entre elas bastante pronunciado, para permitir que dentro da caixa toráxica agasalhe um grande coração capaz de bombear elevadas quantidades de sangue para o sistema mamário. Um peitoral amplo, forte, não só propiciará melhores condições de locomoção, como permitirá um desenvolvimento da primeira constela suficiente para iniciar a formação de um amplo barril.

- Cascos são fortes motivos para descartes precoces de vacas leiteiras. Os cascos devem seguir o paralelismo das pernas, e a angulação linear dos jarretes (não devem projetar grandes unhas para frente, parecendo chinelos). O espaço entre unhas não devem exceder a 1 cm de afastamento entre elas. Jarretas, olhando de lado, devem ter curvaturas moderadas, evitando casacos aprumados.

Como proposto no inicio deste artigo, exploramos somente os aspectos mais relevantes do assunto, com olhar prático, de quem não é um técnico, mas tão somente um produtor atento.

Um abraço

Até a próxima

João Marcos

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Carta do Zé Agricultor para Luís da Cidade

Olá amigos,

Hoje venho compartilhar com vocês uma Carta do Zé agricultor para Luis da cidade. Excelente texto,vale à pena ler! O texto é fictício, mas os fatos são muito reais!

Sátira muito bem bolada. Para reflexão!

Boa leitura

A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio ambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.
Carta do Zé agricultor para Luis da cidade

Prezado Luis, quanto tempo.

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.

Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite.

De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis? Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) ca só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né  Luis?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né.) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família.

Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca. Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo.

Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levou ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo. Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor.

Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade.

Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né? Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. as vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Ó que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Ó vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar em multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui ao escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no IBAMA da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo.

Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos. Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo.  

Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O que é uma vaca leiteira - Parte 1

Caricatamente e com muito simplismo, podemos dizer que uma vaca de leite é: uma máquina extremamente sofisticada, que tendo como matéria prima, um produto de pouco prestígio, como gramíneas e leguminosas, as transforma, através de um instigante processo produtivo, em produtos de extremo valor - o leite e a carne. O leite – um alimento de alta nobreza, um dos mais perfeitos e completos do planeta; a carne, pela alimentação do bezerro ao pé, e por vezes, o feto que ainda está no ventre, é a principal base protéica de alimentação humana.

Já percebemos que o assunto é por demais complexo e que não dá prá em único artigo tratar dele como um todo. Assim, como temos feito em artigos anteriores vamos "comer o boi aos bifes", por partes, e nesse primeiro momento, vamos nos ater ao fenótipo, isto é aos aspectos físicos de uma leiteira. O trato que daremos ao assunto é um olhar popular, nada cientifico. Aquelas pequenas dicas que nos ajude a “arrumar a nossa cabeça”.

A cor do couro do animal não influi na produção dele!? Pode ser branca preta, vermelha, amarela, etc. Então cor não é importante na hora de escolher sua vaca? Para a produção de leite não, mas se você considerar que está adquirindo um ativo, um bem, a coisa muda. Pela lógica, por estarmos em um país com muita insolação e temperaturas médias altas, deveríamos optar pelas cores mais claras, por não absorverem calor, serem mais refletivas, e portanto não levar ao desconforto os animais nos dias mais quentes, prejudicando a produção de leite! Esqueça! O mercado não vê assim. A opção do mercado é por cores mais fechadas, especialmente o preto. Quer uma prova disto? Ponha a venda, em um leilão, por exemplo, dois animais, idênticos em idade produção, etc.. um com pelagem clara e outro com pelagem escura, e verá a quem o mercado deferirá maior valor!

Nem sempre as vacas mais bonitas de um plantel, são as melhores leiteiras. Muitas das vezes é difícil reconhecê-las no meio das outras, ou mesmo identificá-las por seu diploma genealógico (registro dela e de seus ascendentes, grau de sangue etc).

Na próxima semana continuaremos a falar sobre esse mesmo assunto!

Até lá
Um abraço
João Marcos